fernanda maia - a vida íntima e particular da mansão lyrics
[bolkonsky]
eu vi
o quanto envelheci
durmo sentado à mesa
derrubo as coisas no chão
tornei-me um ser patético
esquecido
saudosista também
porque eu envelheci
mas sou querido -ssim
eu desço pro chá de peruca rosé, de pó de arroz
e conto histórias
critico sempre, mordaz
e um velho cruel
relíquia de um outro século
e a boa filha
é um majestoso e agradável espetáculo
[mary]
mas depois daquelas duas horas, as visitas se vão
há mais vinte e duas horas nas quais
toda vida íntima e particular continua na mansão
[bolkonsky]
os meus chinelos
[mary]
sim, papa
sim, papa
[bolkonsky]
o meu licor
[mary]
sim, papa
sim, papa
[bolkonsky]
tá perdendo tempo
rápido, deixe as velas e os santos
[mary]
não, papa
não, papa
e eu não vou a festas
não tenho amigos
e não me convidam
quem vai cuidar dele aqui?
[bolkonsky]
eu te bato
[mary & bolkonsky]
eu te bato
[mary]
mas eu nunca, nunca, nunca fui capaz
não, papa
te amo, papa
-ssim se vai
esse meu azar
e nada acontece de bom
e a bela natalya rostova já vem para o chá
[natasha]
os dois me adoram
todo mundo me adora!
[bolkonsky]
“natasha é nova”
adoro, uma ova!
[mary]
-ssim se vai
esse meu azar
eu quero uma vida também
não vai ser diferente?
eu não vou conseguir ter alguém?
[bolkonsky]
ah, quem é? pretendente?
ah, prazer, prazer!
mas não, não pode entrar
sou frio e vou maltratar você
sai daqui, sai já, sai já
não volte mais
eu vou escolher uma puta – você – pra me casar
ah, isso te ofende, filha?
ai, perdão, meu bem
perdão, meu bem, perdão
[mary]
ele vai pra ela
e lhe beija a mão
e a abraça com ternura de pai
fico tímida e fujo dali
[bolkonsky]
volte aqui
deixe um pobre velho viver
[mary]
ela não te ama, papa
quer dinheiro, papa
tirar vantagem de um velho -ssim
é demais
minha voz falha
[bolkonsky]
é meu dinheiro
e dou pra quem eu quiser
não pra você
nem pr’aquela puta
é meu, tudo meu
tudo meu, meu, meu
meu
meu dinheiro, meu
meu
meus óculos!
meus óculos, ninguém sai!
meus óculos, filha
eu não enxergo
filha, eu envelheci
meu deus, eu tenho medo
meus óculos!
onde estão?
meus óculos!
[mary]
estão bem no seu nariz
o orgulho histórico
lembra quem eu sou
e é esquecido
derruba todas as coisas
e dorme à refeição
com a colher
caindo da mão
é senil e fraco
eu brigo com ele
tenho horror de mim
tenho horror de mim
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