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gabriel o pensador - topo do mundo / fundo do poço lyrics

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[letra de “topo do mundo / fundo do poço”]

[verso]
como dizer o que eu sinto
sem que as palavras sufoquem a voz do instinto?
como expressar minha verdade
pra cada um que me escuta em cada canto distante
se é cada vez mais gritante a surdez que nos fez
e nos faz cada vez mais mesquinhos
seguindo caminhos distintos
estranhos lutando por prêmios estranhos
perdendo a noção do tamanho da vida
aceitando a descida pro fundo do poço
onde a placa diz “topo do mundo” e já ninguém duvida
e chegando no fundo do poço da vida de merda escolhida
uma celebridade celebra sua meta atingida
com números altos quе a fazem pensar mesmo
quе aquele fundo do poço é o topo do mundo
e se sente um alpinista no monte everest
o melhor dos melhores, the best of the best
no spot mais top da merda da vida
e ao fechar os seus olhos, num breve momento
experimenta um pensamento suicida, mas calma
como entender o que aflige sua alma
se as palmas agora enlouquecem o recinto?
olhares atentos, sedentos
babando como cães de caça famintos
e a celebridade sem graça disfarça e desfila
com classe sua n0bre carcaça
de raro animal prestes a ser extinto
que exala um perfume tão rico que é podre de rico
no brilho e na bula da bela embalagem
enquanto termina a viagem
que a leva até o palco do topo do mundo
que é o fundo do poço às avessas
em seu pensamento suicida, procura a saída
entre as mãos que lhe af+gam a cabeça
e observa a pistola que vai na cintura
do seu guarda+costas à frente
um gatilho mental traz a brisa da infância
e ela agora é criança e precisa brincar
procurar um esconderijo, esconder+se pra sempre
num canto que ninguém pudesse encontrar
e começam a gritar no recinto lotado
e ela lembra de quando seu pai ia ver o futebol
o barulho, a bebida, a vitória suada
a derrota sofrida, o calor do lençol
o silêncio do quarto e seu pai ressonando em apneia
as mudanças mais bruscas da vida
as lembranças mais brutas que achava já estarem esquecidas
enquanto ela avança no meio da plateia, relembra a pior despedida
e a dor da lembrança confunde as ideias
as luzes avisam que é hora do show
transmitido ao vivo, não pode ter falhas
milhões de pessoas anseiam por aquele canto que tanto sentimento espalha
que a celebridade celebra uma espécie de missa profana que ameniza o tédio
produz um veneno anti+monotonia de luz e alegria
mas não se beneficia do próprio remédio
parece alergia, mas a glote não fecha que é pra voz trabalhar
como saber de verdade se alguém da plateia
quer saber de verdade o que aquela criança escondida
no fundo da bela embalagem de celebridade poderia querer nos contar?
ela tem que cantar, a plateia pergunta:
“por que ela não canta e parece que pensa em chorar?
mas chorar nem pensar, não pagamos pra vê+la chorar
nós choramos pra vê+la dançar, nós dançamos pra vê+la pular
nós pulamos pra vê+la brilhar
nós brindamos ao vê+la e brindamos à ela
e printamos a tela pra compartilhar
cadê ela, cadê ela? começa, começa”
e no fundo do palco montado no topo do mundo
que é o fundo do poço às avessas
a celebridade tropeça
amparada pelo segurança ela
então se levanta e parece que cansa
ela fecha os seus olhos e canta
ela tenta, mas a voz não sai da garganta
a platéia se espanta
e não quer que ela caia, só quer que ela cante
mas ela tropeça de novo e começa uma vaia e parece vingança
como pode chegar lá no topo
e decepcionar todo mundo e fazer essa lambança?
uma lágrima desce e ela sobe
e se abraça nas costas do seu segurança
ela fecha os seus olhos e chora
ela agora parece criança
e no escuro do choro se lembra de quando ela ainda na infância
pensava que estava no fundo do poço numa vida simples
sem luxo, sem palco e sem brilho
e só então se dá conta da sua ignorância
o tal fundo do poço era o topo, afinal
e ela só descobriu no final
pouco antes de achar na cintura do guarda a pistola e puxar o gatilho
a plateia calada as gargantas travadas pra ouvir o estampido
a surpresa estampada na cara e o alívio
a pistola travada, o detalhe prudente que muda o desfecho do enredo
uma bala engasgada no pente, a plateia em suspense
a pistola suspensa no braço agitado
o final abortado e a celebridade nasceu novamente
ela agora não sente mais medo
finalmente ignora a cobrança
já dispensa o topo do mundo
já não pensa no fundo do poço ou na morte precoce
como há alguns segundos
ela ainda respira e agradece por isso
ela para e respira mais fundo
ela ainda respira e repara que, apesar de tudo, ela inspira esperança
a plateia suspira
a plateia só espera
a plateia em silêncio
e ela agora parece que dança



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