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joe irente - artista do trapézio lyrics

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um artista do trapézio — como se sabe, esta arte que se pratica no alto das cúpulas dos grandes circos é uma das mais difíceis entre todas aquelas possíveis ao homem. havia organizado sua vida de tal maneira que — primeiro por afã profissional de perfeição, depois por um hábito que tinha se tornado tirânico — enquanto trabalhava para o mesmo patrão, permanecia dia e noite no trapézio. todas suas necessidades — por outro lado, muito pequenas — eram satisfeitas por criados que se revezavam e ficavam, embaixo, vigiando

quando a luz se apagou
você não estava mais aqui

tudo o que se necessitava em cima era levado e trazido em cestinhos construídos especialmente para aquele fim

quando a luz se apagou
você não estava mais aqui

uma vez em que viajavam, o artista no seu posto, sonhando, e o empresário perto da janela, lendo, o homem do trapézio interpelou+o suavemente. e disse+lhe, mordendo os lábios, que daquele dia em diante necessitava, para viver, não um trapézio, como até então, mas dois, um em frente ao outro

quando a luz se apagou
você não estava mais aqui
quando a luz se apagou
você não estava mais aqui

o empresário acedeu imediatamente. ademais, sabia+se que não vivia assim por capricho e que só daquela maneira podia estar perfeitamente em forma e conservar a extrema perfeição de sua arte

disfarçado de choro
e uma dor disfarçada de alívio

assim, poderia viver tranquilo o artista do trapézio a não ser pelas inevitáveis viagens de um lugar para outro que o importunavam enormemente. certo é que o empresário tratava de abreviar esse sofrimento

não venha me dizer que me quer de novo
através de sonhos
o trapezista era conduzido à estação num carro de corridas que ia de madrugada pelas ruas desertas a toda velocidade; demasiado lento, entretanto, para sua nostalgia do trapézio

não venha me dizer que me quer de novo
através de sonhos

acrescentou que nunca mais, em nenhuma ocasião, trabalharia unicamente sobre um trapézio

eu não volto a dormir

parecia horrorizar+se diante da ideia que isso lhe pudesse acontecer alguma vez

eu vou digitar mas não vou enviar
eu vou digitar mas não vou enviar
essas mensagens que eu quero mandar
eu posso até pensar mas não vou enviar
eu vou digitar mas não vou enviar
eu vou digitar mas não vou enviar
essas mensagens que eu quero mandar
eu posso até pensar mas não vou enviar

o empresário, detendo+se e observando seu artista, reiterou sua absoluta conformidade. dois trapézios é melhor do que um. mas o artista, de repente, pôs+se a chorar. o empresário, profundamente comovido, levantou+se e perguntou o que havia. e, como não recebesse resposta, subiu para perto do artista, acariciou+o, abraçou+o e encostou seu rosto no dele

não vou enviar
não vou enviar
não vou enviar
não vou enviar
depois de muitas perguntas e palavras carinhosas o trapezista exclamou soluçando: uma única barra nas mãos. como eu poderia viver! então já se tornou mais fácil ao empresário consolá+lo. prometeu+lhe que na primeira estação telegrafaria para que instalassem o segundo trapézio, e recriminou+se por ter deixado o artista trabalhar tanto tempo em um só trapézio. desta maneira, o empresário conseguiu tranquilizar o artista e retornar para seu lugar. em troca, ele é que não estava tranquilo. se semelhantes pensamentos haviam começado a atormentá+lo, poderiam cessar por completo? não continuariam aumentando dia a dia? não ameaçariam sua existência? e o empresário, alarmado, pensou ver naquele sonho aparentemente calmo, em que haviam terminado os soluços, começar a esboçar+se a primeira ruga na testa infantil do artista do trapézio



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